Em uma viagem a Nova York, caminhando por uma região deteriorada do Chelsea em New York, Maldonado descobriu o conjunto de armazéns do Meatpacking onde se distribuía carne para a cidade. E para registrar o que viu, não poderia ser de outra maneira. Com sua Hasselblad montada em um tripé, pôs-se disciplinadamente diante das paredes de tijolos, das portas metálicas, dos grafites caprichados e de outros não mais do que garranchos, a fotografar com rigor milimétrico a geometria ali deixada pelos antigos ocupantes da área. Vez ou outra observava e registrava o entorno, pontuando espacialmente seu discurso.
O conjunto de fotos deste ensaio, mostra com clareza que para se captar o espírito de uma cidade, muitas vezes um só quarteirão basta. A cidade é um fenômeno tão diversificado e cheio de surpresas que a cada passo algo de novo e surpreendente, poderá surgir. E se voltarmos no dia seguinte, novas surpresas nos espantarão. Diante destes espantos que a cidade oferece, Christian Maldonado, em atitude minuciosa diante das paredes e portas do Meatpacking criou um mosaico representativo do período de uma cidade que se destrói e se reconstrói a todo momento, característica das cidades que não podem parar. Um mosaico rigoroso que prova que o fotógrafo não pode agir movido somente pela emoção. A atitude criteriosa ,a busca pela exatidão, faz das paredes e portas do Meatpacking nos remeter ao rigor com que Christian fotografou as folhas secas das Cecrópias.
Cristiano Mascaro
São Paulo 2014